quarta-feira, 15 de abril de 2009

Produtos de marca vendem cada vez menos

Para quem trabalha, como eu, numa multinacional com uma marca lider de mercado, esta não é certamente uma boa noticia.
As vendas de produtos de marca sofreram nos últimos meses uma “diminuição residual”, mas estes continuam a ser preferidos pelos consumidores face às marcas próprias dos distribuidores, disse hoje à Lusa o presidente da Centromarca.

De acordo com o presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca (Centromarca), Duarte Raposo Magalhães, “em 2008, por cada 10 euros, o consumidor gastou em produtos de grande marca de grande consumo quase sete euros”.
Questionado sobre se a diminuição, ainda que “residual”, das vendas de produtos de marca estará relacionada com a subida das marcas próprias da distribuição, cujos preços são tendencialmente mais baixos, o responsável admitiu que terá havido consumidores que, “por opção económica, tiveram que consumir em função do preço”.

Contudo, destacou, “outros houve que não tiveram escolha por as suas marcas de confiança não se encontrarem nos locais de venda, com a variedade e profundidade habitual”.
É que, segundo Duarte Raposo Magalhães, “a concentração das grandes superfícies criou situações de forte desequilíbrio nas relações com os produtores”, que têm “um conjunto de deveres para com a distribuição e quase nenhuns direitos”.
“Os fornecedores de produtos de grande marca podem chegar a ter uma dependência relativamente a uma só cadeia de supermercados de até 30%, que pode subir a 90% o se considerarmos os três principais distribuidores do país”, sublinhou.
“Já o contrário - continuou - não é verdade: um produtor nunca chega a representar um valor minimamente significativo de vendas para um distribuidor”, o que gera uma “relação de desequilíbrio na relação contratual”.

Na prática, esta situação pode traduzir-se, por exemplo, na colocação pela distribuição dos produtos de grande marca “em locais com menos visibilidade, ou mesmo não na sua não colocação”, assim como na criação de marcas próprias “muito semelhantes” às grandes marcas.
Contactado pela Lusa, o director da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED) confirmou que “os dados mais recentes apontam para que as marcas próprias da distribuição têm vindo a ganhar posição e quota de mercado”.

José António Rousseau afirma, contudo, que tal acontece “não necessariamente por efeito da crise”, mas em grande parte devido ao “ganho de confiança” obtido junto dos consumidores.
“As marcas próprias têm uma proposta de valor muito correcta em termos de equilíbrio preço/qualidade e, afastados o receio e desconfiança iniciais, hoje não ficam nada atrás em termos de satisfação do consumidor das marcas dos produtores”, disse.
Para além de alguma transferência de compras de produtos de grande marca para marcas próprias, José António Rousseau diz que o sector de distribuição antecipa que a crise económica “se reflicta, naturalmente, no consumo”, com “menos compras e menor facturação”.
Segundo José António Rousseau, o conjunto de empresas da APED facturou, em 2007, cerca de 12,5 mil milhões de euros, devendo o volume de negócios de 2008, ainda não totalmente apurado, ter-se situado “cinco a seis por cento” acima desse valor.

Fonte: Jornal Hipersuper. Publicado em New@This por Nuno Batista

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