quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Crédito Incobrável: 90% das empresas do comércio são afectadas


Em Portugal, 90% das PME-PMI do sector do comércio têm créditos incobráveis, que representam, em média, 1,4 por cento do volume de negócios, segundo o Barómetro Eurofactor 2008 da Gestão de Clientes das Empresas Europeias.
As empresas demoram, em média, mais de três meses (94 dias) a receber os pagamento dos créditos cobráveis. Os resultados mostram ainda que, embora 87% das empresas iniciem processos de cobrança, apenas 33% facturam e recebem juros de mora. “O crédito em dívida é um problema grave do sector do comércio e a situação é particularmente preocupante face à conjuntura económica global. A boa saúde financeira destas empresas, que constituem já a maioria do tecido empresarial português, depende da capacidade de recuperar, atempada e eficazmente, o crédito que lhes é devido”, refere Rui Esteves, director geral da Eurofactor Portugal.
A confiança no ambiente económico é relativa para 57% das PME-PMI do comércio. Apenas 12% dizem estar confiantes, contra 31% que se mostram pouco confiantes e um por cento nada confiantes. Na verdade, quatro por cento admitem perder quota de mercado nacional, quatro por cento mundial e um por cento europeia.
As principais preocupações do sector são a concorrência dos países emergentes (23%), a evolução das taxas de juros a curto prazo (15%) e evolução do preço da energia (14%). As maiores oportunidades de negócio residem na China (33%), novos membros da União Europeia (23%) e Índia (13%). Mas, curiosamente, as maiores ameaças também são a China (63%) e a Índia (27%).
O recurso ao crédito de longo prazo não faz parte dos planos de 65 por cento das empresas. Apenas 14 por cento esperam ter que recorrer ao crédito e 22 por cento afirmam que provavelmente sim. A nível da tesouraria, para 71 por cento, as necessidades de financiamento estão estáveis e para 14 por cento em diminuição. Apenas 15 por cento afirmam que as necessidades a este nível estão a aumentar. Para não recorrerem ao crédito, 46 por cento utilizam o alargamento do prazo de pagamento a fornecedores, 30 por cento a descoberto, 22 por cento o desconto comercial e cinco por cento o factoring.
O negócio das empresas do comércio é sobretudo doméstico, com 86 por cento de clientes nacionais, oito por cento da zona Euro e cinco por cento fora da zona Euro. As empresas privadas são os maiores clientes (93%), seguidas do sector público (5%) e particulares (2%). Apenas 12 por cento detêm filiais noutros países europeus, contra 88 por cento que admitem não ter.


Fonte: Revismarket. Publicado em New@This por Nuno Batista.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Enfrentar a crise: teoria económica à deriva


Como é que a teoria económica explica a actual crise das principais economias capitalistas do mundo?

A verdade é que se analisarmos a teoria económica que predomina nos bancos centrais e ministérios das Finanças, veremos que não nos pode explicar a crise. Mais: para essa teoria, a crise não deveria estar a verificar-se.

Para falar disto é preciso entrarmos no mundo arcano da teoria económica. Na década de 1970 apresenta-se uma dupla crise na teoria económica. Na chamada teoria microeconómica a crise é terminal: em 1974 já está demonstrado que não existe uma base científica para pensar que os mercados assinalam os recursos de uma sociedade de maneira eficiente. Isso deveria ter sido suficiente para declarar encerrado o programa de investigação teórica baseado na fé na bondade do mercado livre.

Mas os economistas no mundo académico preferiram ignorar os problemas e continuaram a torturas os seus alunos, ensinando-lhes a parte sem interesse da teoria do equilíbrio geral e evitando mencionar-lhes que com essa teoria não se pode demonstrar como se formam os preços de equilíbrio. Desde então, vemos sair das universidades legiões de economistas que acreditam (injustificadamente) que em alguma parte existe uma teoria rigorosa a qual demonstra que os mercados assinalam os recursos de uma sociedade de maneira eficiente.

Na teoria macroeconómica aconteceu algo pior. Na década dos 60 os economistas que se reclamavam de Keynes descobriram a chamada Curva de Phillips e pensaram que podiam utilizá-la para completar e defender o pensamento do seu mestre. Grosso modo, essa curva dizia que existia uma relação inversa entre desemprego e inflação: quando aumentava a inflação, o desemprego diminuía e vice-versa.

Mas nos anos 70 surgiu um episódio de inflação com desemprego. Como o modelo, isso não deveria estar a acontecer. A estagflação marcou a derrocada desta vertente do keynesianismo e o auge do pensamento monetarista. Sob a liderança de Milton Friedman surgiu uma visão da economia segundo a qual "a inflação sempre e em toda parte é um fenómeno monetário". De acordo com este raciocínio, a variável chave para estabilizar os preços seria a oferta monetária. Sem uma análise científica séria, Friedman concluiu que esse resultado (controlar a inflação) seria compatível com níveis adequados de emprego. A base de toda esta argumentação é a fé inquebrantável na estabilidade dos mercados numa economia capitalista (exactamente o contrário do que a teoria microeconómica havia descoberto em 1974).

Num ensaio publicado em 1968 Friedman concluiu com a ideia surpreendente de que para cada nível de pleno emprego há uma taxa "natural" de desemprego. Essa taxa natural corresponde ao que se chamou desemprego friccional (determinado pelo tempo que os trabalhadores passam a procurar emprego). Daqui derivou a NAIRU , acrónimo em inglês que corresponde à taxa de desemprego compatível com uma taxa de inflação sem aceleração no incremento de preços. Todo este edifício teórico servia para justificar que o objectivo único da política monetária devia ser o controle da inflação.

Nos anos 1990, economistas como Bob Eisner haviam destruído as bases analíticas da NAIRU. E no plano dos factos a taxa de desemprego reduziu-se várias vezes, sem que a inflação fosse disparada. Mais: a oferta monetária teve fortes variações e a inflação não aumentou. Tudo isso desmentiu brutalmente a crença dos monetaristas sobre a relação entre oferta monetária e inflação. Quanto à instabilidade nos mercados financeiros, a série de crises dos anos 90 devia pelo menos abalar a fé dos monetaristas na estabilidade dos mercados capitalistas e levá-los a concluir a necessidade de voltar a regular o sector financeiro. Não foi assim. Serão tontos? Não, o que acontece é que as autoridades monetárias vivem subordinadas aos interesses dos sector financeiro.

Hoje observamos que na Reserva Federal [dos EUA] continua a dominar um esquema monetarista. Por isso o problema para a política macroeconómica define-se como antes: há que encontrar o nível preciso de oferta monetária para controlar a inflação e manter o emprego num nível adequado. O Fed equivoca-se novamente: a origem da crise encontra-se na desregulamentação financeira e numa política monetária dedicada a alimentar bolhas especulativas. Por isso as teorias que dominam o Fed (e muitos bancos centrais) não podem dizer nada de relevante sobre a crise: nem sobre as suas origens, nem sobre a política para enfrentá-la.

O verdadeiro problema é que o mercado capitalista é intrinsecamente instável e a crise é a forma natural de vida deste sistema económico. Num quadro reformista haveria pelo menos que reconhecer que a resposta correcta de política é a regulamentação e a intervenção pública.


Publicado em New@This por Nuno Batista

Os custos económicos do desemprego em Portugal


Numa das muitas pesquisas que faço na internet para alimentar este blog, deparei-me com o estudo abaixo.

Trata-se de um trabalho elaborado por Eugénio Rosa, reportando a dados de 2004, mas que reflectem a realidade nacional dos dias de hoje, em Outubro de 2008.


Os custos económicos do desemprego em Portugal - Principais conclusões:

1- Em 2004, o País perdeu 14.050 milhões de euros de riqueza, ou seja, 10% do PIB desse ano e 1.040 milhões de euros de receitas fiscais só a nível do IVA devido ao desemprego. Esta riqueza não produzida contribuiu para a quebra do crescimento económico e as receitas fiscais perdidas contribuíram para o desequilíbrio das contas públicas.

2- Em 2004, os desempregados, por não terem podido trabalhar, não receberam 5.620 milhões de euros de salários, o que contribuiu para a retracção do mercado interno criando dificuldades ao escoamento da produção de milhares de empresas, o que arrastou muitas delas para a falência gerando mais desemprego.

3- Em 2004, o desemprego determinou elevados custos para a Segurança Social. E isto porque, por um lado, a Segurança Social perdeu receitas avaliadas em 1.953 milhões de euros e, por outro lado, teve de pagar subsídios de desemprego no valor de 1.662 milhões de euros.

4- Se a análise incidir no período compreendido entre 2001 e 2004, o desemprego teve as seguintes consequências económicas:
(a) Fez perder ao País riqueza avaliada em cerca de 44.159 milhões de euros ( 88.318 milhões de contos), ou seja, o equivalente a 31,9% do PIB de 2004, o que determinou a quebra do crescimento económico;
(b) Receitas fiscais perdidas só a nível do IVA ( e estas são apenas uma parcela daquilo que o Estado perdeu) avaliadas em 3.268 milhões de euros (653,6 milhões de contos) o que contribuiu para o desequilíbrio das finanças públicas;
(c) Os desempregados deixaram de receber salários avaliados em cerca de 17.663 milhões de euros (3.532 milhões de contos), o que determinou não só o agravamento das condições de vida de milhares de famílias mas também impediu o escoamento da produção de milhares de empresas, gerando falências e mais desemprego;
(d) Causou elevados custos à Segurança Social porque, por um lado, fez perder receitas avaliadas em 6.137 milhões de euros (1.227 milhões de contos) e, por outro lado, teve de suportar despesas com o pagamento de subsídios de desemprego calculadas em 4.988 milhões de euros (1.000 milhões de contos).

5- Os 150.000 empregos prometidos pelo PS, mesmo se fossem reais, não seriam suficientes para reduzir o desemprego em Portugal. Em primeiro lugar, porque o PS já esclareceu que se for governo tenciona reduzir o emprego público em 50.000 postos permitindo a entrada na função pública de apenas um trabalhador por cada dois que se reformarem. Em segundo lugar, porque no período compreendido entre o 3ºTrimestre de 2001 e o 3º Trimestre de 2004 foram destruídos em Portugal nas profissões “agricultores e trabalhadores qualificados da Agricultura e Pescas”, “operários e similares” e “trabalhadores qualificados” 197.900 postos de trabalho e é de prever que esta destruição maciça de postos de trabalho continue porque a única proposta apresentada pelo PS é o chamado “choque tecnológico” em que o emprego que eventualmente criará não absorverá os trabalhadores cujos postos de trabalho sejam destruídos, até porque os níveis de escolaridade e de qualificação exigidos são diferentes.


Publicado em New@This por Nuno Batista.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Bolsa derrapa mais de 3,5% com receios de recessão


A Bolsa em Lisboa fechou a sessão desta quarta-feira a perder, numa Europa onde as descidas chegaram a ultrapassar os 6%, apesar de vários bancos centrais de todo o mundo terem anunciado um corte nas respectivas taxas de juro de referência, numa acção concertada para tentar travar a crise financeira.
O próprio Banco Central Europeu (BCE) reduziu a taxa de referência para a Zona Euro em 50 pontos base, ou seja, dos 4,25% para os 3,75%, mas os investidores não reagiram de forma positiva a este anúncio, a reflectir o receio de que a redução das taxas possa não ser suficiente para evitar uma recessão económica
A nível doméstico, o PSI20 caiu 3,64 por cento para os 6.620,51 pontos, com apenas três acções a negociarem no verde. Foi o valor mais baixo dos últimos cinco anos. Na restante Europa, as perdas variaram entre os 4,92% e os 6,31%, depois de já terem negociado em mínimos de pelo menos três anos. A bolsa francesa e russa chegaram mesmo a ser suspensas durante a manhã.
Na Ásia, os mercados encerraram uma vez mais a cair, tendo as perdas chegado a ser superiores a 9%. O Nikkei japonês recuou 9,38% e o Hang Seng de Hong Kong 3,66%, o que já fazia prever que este fosse mais um dia negro para as bolsas mundiais.
Em Lisboa, a empurrar para baixo estiveram os pesos pesados da praça: o BCP caiu 3,35% para os 0,98 euros (valor mais baixo da sua história), a EDP cedeu 4,41% para os 2,27 euros e a Portugal Telecom derrapou 8,67% para os 5,90 euros.
A liderar as perdas ficou a Sonaecom que tombou 9,93% para os 1,35 euros, mas a Zon Multimédia e a Galp também saíram penalizadas já que recuaram 7,54% e 6,46%, respectivamente.
Nos Estados Unidos, os mercados seguem a negociar em terreno negativo.


Fonte: Portugal Diário. Publicado em New@This por Nuno Batista.

Crise económica ajuda discount

As recentes divulgações de resultados dos grupos retalhistas que operam no discount, apresentando a maioria crescimentos de duplo dígito, fazem prever que o conceito aumente ainda mais o seu peso no retalho mundial. A ajudar estão a crise económica, os aumentos dos preços dos alimentos e combustíveis, bem como a percepção por parte do consumidor em relação a estas lojas.

O Planet Retail traçou, num dos seus últimos relatórios, um quadro bastante positivo para o conceito discount a nível mundial. Os grupos retalhistas que operam este conceito registaram crescimentos significativos e conseguiram entrar em mercados onde, até agora, a penetração era marginal.
Embora a Europa seja indiscutivelmente a “pátria” do discount, o conceito já atravessou as fronteiras do Velho Continente. Estados Unidos da América, Ásia, Rússia e demais mercados emergentes como, África e Médio Oriente, onde aliás as previsões dão conta de que o discount deverá duplicar a penetração nos próximos cinco anos, são países/regiões onde o conceito está a vingar.
Até 2012, os dados obtidos pelo Planet Retail indicam um crescimento nas vendas do discount na ordem dos 65%, passando globalmente de 237 mil milhões para 390 mil milhões de dólares (aproximadamente 280 mil milhões de euros). A Europa manter-se-à como principal mercado para e do conceito, prevendo-se que a quota de mercado das lojas discount na região ultrapasse os 10%.
As lojas discount tornaram-se, aliás, o principal foco de desenvolvimento de alguns grupos retalhistas europeus, especialmente na Europa Central e de Leste. Além dos “gigantes” Aldi e Lidl do Schwarz Group, apareceram, nos últimos anos, players de dimensão menor, mas com grande potencial, englobando-se neste grupo a polaca Biedronka do grupo Jerónimo Martins ou a turca BIM.

Polónia no centro
De acordo com as previsões do Planet Retail, a Polónia será o primeiro mercado mundial onde o discount será o líder indiscutível no panorama do retalho, pertencendo este feito à “joaninha” da Jerónimo Martins, deixando para trás grupos como Carrefour, Tesco ou Metro.
Na Europa Central e de Leste, em particular, o grande número de cidades de média dimensão representam um terreno fértil para o desenvolvimento a longo prazo deste conceito, enquanto na Europa Ocidental, a estagnação registada nos hipermercados, dando lugar a lojas com áreas de venda mais reduzidas, beneficia a política de expansão dos operadores de discount.
No palco europeu, a Aldi, criadora do conceito discount, continua a manter a liderança no ranking global, apresentando vendas, em 2007, de 43,7 mil milhões de euros, prevendo-se que este valor aumente para 52,3 mil milhões no final do actual exercício.
Apesar de aparecer como líder do discount na Europa por causa do número de lojas, o Lidl não consegue bater o concorrente Aldi, embora a aproximação entre os dois grupos seja real. A insígnia do Schwarz Group deverá registar vendas de 46,6 mil milhões de euros em 2008, muito devido à expansão a mercados como o australiano e norte-americano, onde inaugurou a primeira loja neste mês de Setembro.

A percepção do consumidor
O conceito discount tornou-se, de facto, numa “ameaça real” para os grupos de retalho, não só por causa da eficiente cadeia de distribuição e eficaz capacidade de trabalho, como por outros factores internos e/ou externos. O próprio consumidor mudou a percepção em relação ao discount e descobriu que preços mais baixos não significam obrigatoriamente menos qualidade.
Além disso, o consumidor utiliza cada vez mais o discount para efectuar compras selectivas, procurando, posteriormente, nos outros conceitos o que as lojas discount não oferecem.
No entanto, o discount está a responder e a expandir a gama de produtos e serviços. Exemplo disso mesmo, é o Lidl que no Reino Unido está a testar um formato de conveniência, sob a insígnia Lidl Express, oferecendo padaria, bem como café fresco.
Em França, a nova estratégia da ITM passa pela modernização do portfólio de lojas, com o lançamento de um novo conceito para a insígnia Netto, com o objectivo de transformar as lojas de hard discount em “supermercados discount”, com maior área de venda, alargamento da oferta de produtos e self-checkouts.
Além de todas estas alterações, as lojas discount estão a tornar-se cada vez mais atractivas para os consumidores através da oferta de serviços de entrega ao domicílio, cartões de fidelização ou viagens.

A conclusão do Planet Retail é simples: “está a nascer um novo conceito de discount”.
Fonte: Hipersuper. Publicado em New@This por Nuno Batista